sábado, 3 de abril de 2010

bebendo do antigo blog...23/04/2007

Locômbia - Teatro de Andanzas


Beatriz Brooks na II Mostra Macuxi de Artes - SESC / RR


Marcelo Perez · Boa Vista (RR) · 1/12/2006 10:12 ·

Fonte: http://overmundo.com.br/overblog/noticia.php


"Eu sou Dionísio!"

Essa frase pronunciada por Téspis no século VI a.c., na Grécia, mexeu com a sociedade daquela época, pois nunca nenhum membro do coro grego havia se pronunciado sozinho. Naquele momento nascia o Teatro. E em plena rua.

Em Boa Vista não é difícil encontrarmos artistas experimentando as suas técnicas em sinais e praças da cidade, ousando como Téspis da Grécia Antiga. Por aqui existem grupos que uma vez ou outra resolvem realizar o teatro na rua, montam literalmente um palco, iluminação, som e celebram esta arte para todos que se interessarem em parar para assistir.

Mas o teatro de rua mesmo não é uma prática nesta cidade. Essa linguagem, muito bem trabalhada e conhecida por grupos como Tá na rua, do Rio de Janeiro e Grupo Galpão, de Minas Gerais, agora é que começa a despertar a classe teatral local.

Existe hoje na cidade apenas um grupo que desenvolve essa linguagem: Locômbia, Teatro de Andanzas. E curiosamente esse grupo é formado por dois colombianos e um brasileiro. Beatriz Brooks, 41, Orlando Moreno, 45, colombianos e Shanti Ram, com cinco anos, o único brasileiro do grupo e filho do casal.

Locômbia, Teatro de Andanzas é um grupo tradicionalmente familiar, que desde 1986 resolveu sair pelo mundo visitando diferentes culturas e sempre fazendo teatro. "É uma filosofia de vida", como diz Orlando. Eles já estiveram em lugares como México, Costa Rica, Canadá, Alemanha, Hungria, Slovenija, participaram de festivais na Suécia, Dinamarca, Índia, Moçambique, Nepal e toda a América Latina.

O grupo já mora há cinco anos no Brasil e já estão em processo adiantado para se naturalizarem no País. “Já tá na hora de fixar residência, criar uma estrutura segura para nosso filho”, como diz Orlando. Boa Vista é privilegiada em ter essa trupe de saltimbancos interessada em dividir experiências com artistas locais.

A relação deles com o Brasil surgiu em 1987 quando em turnê pela América do Sul, em um festival na Argentina, eles conheceram um grupo de teatro brasileiro. O Grupo de Teatro dos Afogados, de Hugo Hodas, um dançarino uruguaio que já morava em Brasília há muitos anos.

“Bom, já tínhamos contatos no Brasil, então fomos pra lá e paramos em Brasília através da nossa turnê. Intercambiamos com Hugo Hodas. Fizemos a oficina dele de dança e em troca oferecemos nosso trabalho de mímica e pantomima para os dançarinos dele”. Orlando disse que durante as viagens eles sempre encontravam um meio de intercambiar seus conhecimentos com a cultura local, o que tornava mais rico o seu trabalho.

Depois de Brasília foi a vez da cultura nordestina encantar o grupo. Eles não conheciam o frevo, que logo foi agregado ao repertório do grupo. “Nós, como viajeiros vamos integrando toda essa bagagem de técnicas ao nosso trabalho profissional. Sofremos muita influência, principalmente da música. Nosso espetáculo atual tem “Maria, Maria”, de Milton Nascimento, o movimento da capoeira, a ginga, o Afro com o tambor e o batuque.”

Ao falar de patrocínio com ele, Orlando diz que “o grupo sempre foi autogestionário. Na Colômbia era muito difícil de encontrar apoio e sempre realizávamos as oficinas. A vontade mesmo do grupo era conhecer outras culturas. E íamos fazendo espetáculos passando os chapéus e muitas vezes os chapéus eram melhores que os cachês e íamos continuando nossa viagem. Recebíamos convite pra realizarmos oficinas em escolas, universidades e depois íamos pra outras cidades. Já estamos viajando assim há 20 anos. Quando se viaja é muito difícil de conseguir patrocínio, pois nós não pertencemos ao lugar”.

Tanto tempo viajando me despertou logo a curiosidade de saber como é a rotina dessa trupe familiar e sem pestanejar e com muito orgulho do que faz ele diz que “a nossa rotina é de teatro mambembe, de circo, de família onde se mistura tudo, a criação com a cozinha, com a mecânica, a convivência. Dou aulas pro meu filho de inglês, português, espanhol, música. Não encontramos uma escola integral pra ele. Estamos preparando um novo espetáculo que ensaiamos em momentos livres, está na encubadeira. Somos amantes de nossa arte, gostamos do que fazemos. Só podemos fazer isso porque somos uma família, um casal com um filho. Se existissem mais pessoas seria muito mais difícil. Uma vez formamos um grupo com duas Kombi, inclusive com artistas brasileiros, mas não deu certo. Muito gasto e pouca entrada. Moramos aqui nessa casa com três cômodos, bem simples e vamos trabalhando. Minha esposa dá aulas de Yoga e percebemos que essa cidade tem um mercado promissor. E dinheiro não é tudo, o mais importante é a riqueza compartilhada. O dinheiro vai chegar pra pagar as contas, nunca falta. Desde que chegamos aqui nunca nos faltou nada”.

A formação do grupo vem das ruas, da prática, da insistência e repetição de exercícios, qualidades que Orlando vê também no artista brasileiro, “o ator brasileiro é muito hábil, muito aberto pra receber informações”. Na época em que o grupo surgiu, Orlando havia acabado de sair do ensino médio e como a Universidade estava fechada na Colômbia, ele e seus amigos resolveram dar continuidade ao trabalho teatral que já realizavam na escola. “Nós não queríamos fazer o teatro de academia, o tradicional, Brecht, ou o de televisão, nós não fomos pra escola de teatro. Queríamos fazer outro tipo de teatro e começamos a compartilhar com grupos maiores, aprendendo técnicas, e acho que quem quer fazer teatro deveria ir pesquisar com grupos. Nós íamos pra cachoeiras, pras ruas, com pernas de pau, pra exercitar, confrontar o ator com o público, nas montanhas, naquela época era um teatro de compartilhar, se você quisesse aprender música era só procurar algum grupo que tinham a técnica e aprender com eles. O teatro de grupo forte mesmo foi naquela época, hoje é o teatro de diretor. Na Colômbia muitos atores estão na televisão. Eles deixaram o teatro de grupo e hoje estão completamente sem gestos, limitados”.

E não é isso o que eles querem. O grupo Locômbia continua pesquisando novas linguagens. Eles estão ensaiando agora um novo espetáculo que conta as fases da vida de uma pessoa, com várias técnicas, pernas de pau, técnicas brasileiras...

Conversamos também sobre a cena teatral de Boa Vista, e a observação feita por ele é de que aqui existe vitalidade, “está se criando um movimento muito grande de teatro de grupo, tem o Fórum Permanente de teatro, que nós não fomos ainda, mas ano que vem estaremos lá. O seminário Estadual de Cultura realizado aqui foi muito importante para os artistas gritarem que existimos. Agora os trabalhos, eles são experimentais, que misturam todas as técnicas. Ainda faltam amadurecer, mas o importante é correr o risco. Amadurecer, não tem um teatro profissional, precisamos é aprimorar as técnicas”.

E por que Locômbia?

“Fomos barrados no consulado da Colômbia, em Brasília, 1992. Era uma festa dos descamisados e eles disseram que só podiam entrar militares. Nessa época, em 92 mudamos o nome do grupo de LATARIMA pra Locômbia. Não queríamos pertencer a um país que nos fechou a porta, os consulados não servem pra nada, não apóiam em nada. Locômbia é um país utópico, sem guerras, sem miséria, sem narcotráfico, é um país sonhado por todos os artistas, é um segundo andar da Colômbia... continuam com aquele mesmo espírito do início”.

O grupo agora está de volta à Colômbia. Vão visitar a família, pegar o restante de suas coisas e retornarão à Boa Vista. Dessa vez para ficar. Ele lembra que “no início não éramos reconhecidos pela família, mas depois que saímos, demoramos bastante, e voltamos vivos, aí sim fomos reconhecidos como artistas. Estamos indo pra Caracas e depois voltaremos pra Boa Vista já pra morar. A idéia é montar uma sede, um espaço pra dar aulas de yoga, mímica, origami, ensaiar espetáculos. E sempre nos apresentando pelo caminho. Esse é o nosso meio de sobrevivência”.

Questionado sobre os motivos que ainda o fazem alimentar esse desejo de divulgar a arte pelas ruas da cidade, me surpreendeu bastante quando disse que "mesmo morando aqui nunca deixaremos de viajar. Precisamos sempre voltar, depois que se começa a viajar não dá pra parar. A arte mexe com o coração da gente, é vital, não é pelo dinheiro, é pelas pessoas que assistem aos espetáculos”.

REPERTÓRIO: (ver site do grupo)

Mara Baraha

O espetáculo Maha Baraha foi inspirado na Mitologia Hindu, na qual a Criação, a Preservação e a Destruição se combinam para criar a harmonia no Universo. Conta-se a historia maravilhosa de um encantador de serpentes (representando o demônio Hiranakio) que rouba o mundo da sua protetora, a Mãe Terra.

Compassos Em Silêncio


Esta peça foi inspirada nos encontros e desencontros da vida cotidiana, os quais são enfrentados de uma maneira poética, trágica e cômica. Através das Mímicas de "Compassos em Silêncio", o grupo desenvolve um teatro sem palavras, utilizando uma linguagem não verbal e corporal com música ao vivo (Saxofone, clarineta e percussão) enriquecido com Máscaras, Origami e alguns objetos.

Odissi


A Dança Odissi é originária da região de Orissa, situada ao nordeste da Índia. Faz parte do Culto ao Deus negro Jagannath, sendo uma representação de Vishnu, Deus que preserva. As bailarinas do Templo, chamadas de "Maharis" ou "Devadasis", eram jovens que consagravam suas vidas ao Deus e ao rito cerimonial, sendo treinadas pelo Guru ou Mestre do templo na tradição sagrada de contar historias da Mitologia Hindu através da expressão corporal e um rico vocabulário de gestos.Odissi tem um caráter espiritual e estético, relembrando a simbologia da Yoga e a Meditação em que se busca a união entre a mente e o corpo para liberar o espírito. A característica principal da dança é o Tribangui, correspondente a três dobras do corpo (na cabeça, no tronco e nos joelhos), formando sempre um triângulo com o corpo do bailarino, relembrando a linha sinuosa da estatuária em pedra dos templos hinduístas. Combina-se a expressão dramática com uma refinada e sensual estilização de movimentos corporais suaves e fortes, busca despertar emoções no espectador.

Marcelo Perez

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