sábado, 3 de abril de 2010

bebendo do antigo blog...23/04/2007



A força do teatro de rua



Marcos Paulo · Porto Velho (RO) · 15/10/2006 14:44 ·




Fonte: http://overmundo.com.br/overblog/a-forca-do-teatro-de-rua





“Quando se imaginaria que o teatro de rua ganharia tanta força em Porto Velho?”




Ouvi, sem querer, um dos estudantes em comentário discreto, mas preciso, sobre o espetáculo “O Mistério no Fundo do Pote - Ou como surgiu a fome”, de Ilo Krugli, interpretado por atores do grupo “O Imaginário”, que segue a temporada até o final de outubro. Tudo é muito novo, o que não significa falta de qualidade.




Quer mais um exemplo de como essa “novidade” veio pra ficar? “O Julgamento de Branca Dias pela Santa Inquisição”, de Dias Gomes, apresentado bem ao centro de um dos patrimônios históricos da capital: a praça das Caixas D´Água. Prossiga nas próximas linhas e logo vai entender como é essa força que o teatro de rua conquistou e encantou pessoas da cidade banhada pelo rio Madeira.




Depois de receber o Prêmio Funarte de Teatro Mirian Muniz, em maio deste ano, o grupo “O Imaginário” reuniu nove atores jovens de Rondônia para fazer a montagem da peça, que mais tarde percorreria as ruas de bairros considerados afastados do centro urbano. Para dirigir o espetáculo, nada menos que o conceituado e especialista em teatro de rua Narciso Teles, diretamente do Rio de Janeiro a Porto Velho, que teve apenas quinze dias para preparar os atores. Também não foi o primeiro a estranhar que por essas bandas de cá muito ainda deve ser feito. “Falta incentivo aos que querem que a arte atravesse e ganhe novas fronteiras”, enfatizou. Segundo ele, “o teatro de rua modifica poeticamente o espaço urbano e, ao mesmo tempo, abre-se para as inúmeras e possíveis interferências, como sons, falas, vento...”. Como mudou e acrescentou o aprendizado de uma das atrizes da peça, Tati Andrade, 23 anos, que estreou no teatro de rua. “Tudo está sendo muito novo pra mim, mas tenho certeza que quem assistir à peça verá que houve muito empenho e vontade de fazer acontecer: tanto pra nós, como ao público”.




O primeiro passo foi dado. Gente que nunca havia assistido a uma peça de teatro pôde conferir e se emocionar, de perto e gratuitamente, com a velha e pequena cidade ficcional de “Três Saudades”, num tempo em que não existia a fome e todos pegavam apenas o necessário, como reza a dramaturgia de Ilo Krugli. “Nem sabia que existia teatro na rua”, revelou a pequena e ingênua Fabiana Monteiro, 14 anos, que pela primeira vez assistiu a um espetáculo teatral sem sair do próprio bairro. Não obstante, o estudante Diego dos Santos, 16 anos, um pouco mais agitado, até articulou com seus amigos uma possível continuidade de projetos desta natureza ao seu bairro, o Tucumanzal, que já foi considerado um dos mais perigosos da cidade. “Nós daqui dificilmente temos oportunidade de assistir a um espetáculo como este, ainda mais de graça”, lamentou.




“Por ser ao ar livre, é como se fizéssemos parte do espetáculo”, analisa o estudante de História James Silva, ao assistir pela primeira vez ao espetáculo “O Julgamento de Branca Dias pela Santa Inquisição, apresentado francamente aos domingos pelo grupo “Abstractus”, na praça das Caixas D´Água. A peça é baseada no texto “O Santo Inquérito, de Dias Gomes, dirigido por Elcias Villar, que conta a história do julgamento de Branca Dias no século 18, ela é acusada de ter cometido pecados e atos contra a moralidade.




Ao longe, mais parece um tumulto ver a platéia camuflar a respiração boca-a-boca de Branca Dias ao Padre Bernardo, onde se inicia o processo de denúncias que levam a protagonista à prisão. Mais tarde, ela vem a ser queimada, segundo relata a história da trama. O espetáculo originou-se ainda em 2003, mas, por falta de espaço para apresentações e depois de anos de pesquisa, a direção do espetáculo resolve aceitar o desafio e trazer a história de Branca a sua concepção original.




No fundo, não era difícil imaginar que Porto Velho poderia – e pode – ter essa força de atrair centenas de pessoas para apreciar, descobrir e se encantar com a beleza e improvisação que é o teatro de rua. Sentir esse triângulo que se forma entre platéia, espetáculo e incertezas no cenário a céu aberto, por assim dizer, prova que basta unir as forças de grupos como “O Imaginário”, “Abstractus” e tantos outros com um pouco mais de incentivo a quem deseja levar cultura, arte e entretenimento.

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Para mudar a realidade, Caretas

Joana Moscatelli


Rits. Brasil, agosto de 2005.
fonte: http://www.lainsignia.org/2005/agosto/cul_037.htm



Desde 2001, o Grupo de Intervenção Social - Teatro Caretas trabalha com temas ligados a questões sociais, promovendo a reflexão e a mobilização da população da periferia de Fortaleza (CE). Formado por quatro atrizes, a idéia do grupo é fazer do teatro um veículo de transformação social, abordando em seus espetáculos assuntos que tenham a ver com a realidade do público e que o ajude a se mobilizar para mudar e lutar por seus direitos.



Através de pesquisas na área de cultura popular, a iniciativa busca relacionar suas peças com questões sociais e problemas existentes. Os espetáculos são inspirados no trabalho de dramaturgos como Bertold Brecht e Augusto Boal, autores que, apesar de defenderem técnicas teatrais bem diferentes, buscam a conscientização do público acerca de temas ligados ao seu cotidiano. "Assim como Brecht, acreditamos na responsabilidade social do teatro. Trabalhamos com a idéia de um teatro que mobilize as pessoas a atuarem na sua realidade criticamente", explica Vanessia Gomes, uma das atrizes integrantes do grupo.



Além disso, o Teatro Caretas também trabalha muito com o conceito de "Teatro Fórum", de Augusto Boal, apresentando suas peças em praças públicas, associações comunitárias e festivais. Boal é o criador do Teatro do Oprimido, que rompeu com a estética tradicional do teatro e propunha o envolvimento da platéia na cena.



Com isso, o grupo quer levar para áreas pobres peças que tratem de temas ligados ao cotidiano das pessoas e abrir o debate acerca de problemas que as afligem. Após as apresentações, são realizadas oficinas de teatro, circo e percussão. Além disso, são promovidas palestras que buscam aprofundar ainda mais a discussão.



Outra grande fonte de inspiração para o grupo é o educador Paulo Freire. As idéias de educação popular do pedagogo influenciam as atrizes, que buscam em tradições populares, como o reisado e os folguedos, temas para seus espetáculos. Inspiradas na cultura tradicional popular, elas apresentam peças de teatro de rua, aliando arte e política.



Entre as peças que o Grupo já produziu estão "Acorda Zuleica!", que discutia a importância da consciência ambiental, e "E agora, José?", que incentivava a elaboração de políticas públicas para melhorar a condição das pessoas que vivem em áreas de risco. O último espetáculo produzido foi "A casa da mãe Joana", cujo tema era a violência sexual contra crianças e adolescentes. Durante as apresentações, o Teatro Caretas entrou em contato com o Centro de Referência da Mulher de Fortaleza e surgiu a idéia de realizar um espetáculo que tratasse da violência doméstica contra a mulher.



E será justamente este o tema da próxima peça. Ainda em fase de montagem, "Rompendo o Silêncio" conta a história de uma rainha que sofria com a violência do rei e achava que nada poderia fazer para mudar sua realidade até perceber que deveria abandonar o rei. A situação é conhecida e vivida por muitas mulheres brasileiras, e a intenção é fazer com que elas percebam, assim como a personagem, que não devem aceitar serem humilhadas e maltratadas por seus maridos e companheiros.



A estréia está prevista para outubro no bairro de Jangurussu, em Fortaleza. Atualmente, o Grupo está identificando áreas onde os índices de violência contra as mulheres são maiores e realizando contatos com associações, movimentos de mulheres e de luta contra a violência doméstica.



A articulação com movimentos sociais e culturais além de associações comunitárias é fundamental para que o grupo possa identificar questões a serem tratadas em seus espetáculos. As integrantes buscam trabalhar em parceria com movimentos sociais e políticos como o Instituto de Saúde e Desenvolvimento Social (ISDS) que desenvolve estudos e projetos na área de saúde e desenvolvimento social. Outro parceiro é o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente (Cedeca). E, na área da cultura, trabalham também juntamente com o Teatro José de Alencar, o Teatro da Boca Rica e a Federação do Teatro Amador, todos de Fortaleza (CE).

Recentemente, o grupo ganhou apoio do Fundo Ângela Borba, que financia projetos sociais ligados à melhoria das condições de vida das mulheres. A iniciativa foi uma das ganhadoras do V Concurso do Fundo e passou a receber recursos para a realização de seu espetáculo.

posted by Núcleo de Teatro de Rua ELT

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